Diminuição do volume de chuvas e aumento da perda de água por evapotranspiração são fatores que demonstram o desequilíbrio no ciclo perene; área de lavoura no bioma brasileiro cresceu 120% em 20 anos
O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e abrange quase 24% do território nacional. Com 40% da área sendo composta por paisagens abertas, ele funciona como um grande coletor de água. Contudo, um estudo publicado em 4 de novembro de 2023 na revista Regional Environmental Change mostrou que as bacias hidrográficas do bioma brasileiro estão secando e perdendo a sua capacidade de abastecer os principais rios brasileiros.
O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e abrange quase 24% do território nacional. Com 40% da área sendo composta por paisagens abertas, ele funciona como um grande coletor de água. Contudo, um estudo publicado em 4 de novembro de 2023 na revista Regional Environmental Change mostrou que as bacias hidrográficas do bioma brasileiro estão secando e perdendo a sua capacidade de abastecer os principais rios brasileiros
“Em algumas regiões, a diferença entre a quantidade de água que entra com as chuvas e a que sai por meio da evapotranspiração já é negativa”, afirmou o engenheiro agrônomo Rodrigo Lilla Manzione, docente da Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação da Unesp, no campus de Ourinhos. Ele se refere a bacias situadas no centro-norte do bioma, próximas a fronteira com o semiárido.
Uso da terra
A área convertida em lavoura no Cerrado sofreu um aumento de 120% entre 2000 e 2019, passando de 10,27 milhões para 22,7 milhões de hectares. Já a temperatura média do bioma durante os meses de seca também tem subido: está entre 2,2ºC e 4ºC mais quente do que nos anos 1960. “A cultura de soja foi a que mais cresceu, saltando de 5,7 milhões para 16,8 milhões de hectares, mas outras, como a de cana-de-açúcar e café, também expandiram”, destacou Silva.
A pesquisa analisou dados de satélites dos últimos 20 anos e usou dados do Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas), e do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Dados de 2021 do MapBiomas mostraram que, de 1985 a 2020, cerca de 26,5 milhões de hectares dos três principais tipos de formação nativa (campos, savanas e florestas) foram substituídos por áreas de criação de gado e produção em larga escala de commodities agrícolas. As plantas de monoculturas são de crescimento rápido e seu metabolismo é mais acelerado do que o de florestas nativas, explicou Manzione. “Isso significa que elas consomem mais água armazenada no subsolo, impactando a quantidade de água que chega aos rios por meio do escoamento superficial ou infiltração.”
Segundo o artigo, a combinação de mudanças no uso da terra, na cobertura vegetal e na demanda por água levou a uma redução na segurança hídrica na região. Além disso, com menos chuvas, os agricultores aumentam a irrigação das lavouras usando justamente a água subterrânea dos rios.
Em vez de criar novas áreas de lavoura a partir do desmatamento de florestas, Silva acredita que uma forma de mitigar o problema seria recuperar pastagens degradadas, bem como ampliar práticas sustentáveis a exemplo da Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF). “Essas práticas tendem a beneficiar a produtividade agrícola em comparação com as monoculturas, além de manter o solo com melhor qualidade ambiental e equilibrar o uso de água de forma mais sustentável a longo prazo”, concluiu.
Por Redação Galileu
10/01/2024 06h00 Atualizado há 2 dias